Vamos descobrir porque os Parisienses acham o estilo de vida deles o melhor do mundo!

Eu e Leonardo chegamos aqui em Paris no dia 12 de Junho de 2005 (Dia dos Namorados no Brasil) e, apesar jà termos visitado a cidade algumas vezes, não deixamos de nos impressionar com o seu astral e beleza. Moramos em diversos bairros durante 3 anos e meio e recentemente nos mudamos para os arredores de Paris, numa pacata cidade chamada Verneuil sur Seine. Estamos fora do Brasil desde junho de 2004 e desde então jà moramos em 4 paì­ses (Roma/Itàlia, Amsterdam/Holanda e Varsòvia/Polônia). Com a gente mora nossa filha Isabelle, umas das muitas felicidades que esse séjour na França nos deu. Frutos desse belo séjour na Europa também são os nossos lindos gatinhos: Tyskie, Merlot, Charbon, Sweetie, Dallas (Dalllinhas!), Daiquiri e Marie, todos da raça Maine Coon. Somos atualmente criadores de gatos dessa raça e nosso site é o www.mainecoonsauvages.fr. Somos muito felizes aqui, de bem com a vida, com os franceses e com as demais culturas que nos rodeiam. Ninguém é melhor do que ninguém e somos humildes o suficiente para reconhecer isso e entender/ respeitar a diferença - algo que todos reclamam não receber, mas que a maioria nunca deu em troca. E felizemente somos rodeados de pessoas que compartilham dessa mesma felicidade, pessoas que fazem do lugar onde estão a sua casa e vivem em paz. Somos responsàveis pelas nossas escolhas e por isso vivemos em paz com o que queremos e escolhemos. Pessoas de bem e felizes são sempre bemvindas no nosso blog e na nossa vida. Rancor, amargura, raiva e sequelas não são o tema desse blog e quem nos acompanha hà tempos jà percebeu isso. Portanto, have some fun! ;-)

samedi, novembre 19, 2005

Liberté, Égalité, Fraternité

Ontem fui passear pela região de St Germain e depois passei perto da Notredame, onde estava tendo um pequeno protesto pacífico. Protesto aqui é quase que diário e sagrado, os franceses adoram reclamar e quase nunca há confusão. Mas o de ontem era de africanos e seus descendentes franceses, clamando por "égalité". Devido aos acontecimentos recentes, tinha MUITA polícia e batalhão de choque, todos preparados para qualquer violência. Quando me aproximei do protesto, tinham apenas umas 30 pessoas protestando. Sério, devia ter mais do dobro de policiais... Os franceses foram pegos de surpresa uma vez e parece que não querem que aconteça de novo. E não está errado, final, independente dos motivos, violência é algo intolerável, crime é crime e quem os comete tem que pagar. Queimar carro é crime. Aqui tem muito espaço para protesto pacífico e até imigrantes tem poder de voto. O governo não ignora protestos, por isso acho que não precisa usar de violência para se fazer ouvir. Aliás, pra mim, nada justifica a violência, nem a própria violência.


Muita gente tem perguntado se está tudo bem com a gente. A queima de carros e manifestos mais violentos aconteceram nos subúrbios e arredores de Paris mesmo e nossa área não foi afetada, nem nossa rotina mudou. Tudo em paz, normal. Mas o governo reforçou bem a segurança, especialmente nos subúrbios e está conseguindo aos poucos conter o problema. Na verdade, isso ocorre nos bairros onde predominam comunidades imigrantes ou descendentes desses. Árabes, Argelinos, Africanos e etc. Eles têm direito de estar aqui, o governo tem acordos e eles obtêm visto mesmo sem emprego; é um direito deles. E o governo tb oferece cursos, ajuda a arrumar emprego, dá seguro desemprego, adolescentes tem estudos pagos 100% até 26 anos, saúde... Enfim, tudo igual a um francês. Só que embora haja algum esforço da parte do governo, esse esforço parece não ser suficiente e de fato não há empregos para todos, nem para todos os franceses, quanto mais para os que vêm de fora. Assim como o Lula não conseguiu gerar 10 milhões de empregos (foi esse o número que ele prometeu? Não lembro exatamente), aqui ninguém vai conseguir também. Milagre ninguém faz. Aqui é a maior colônia árabe da Europa. É muita gente. E muitas vezes gente sem qualificação. Todos sabem que, hoje em dia, cada vez menos sobra espaço para a criação de empregos para pessoas sem formação superior.


E aliado a isso, acho que o governo não consegue estabelecer diálogo claro com essas pessoas que se sentem excluídas, nem mostrar o que tem feito, nem propor soluções que os agradem. É uma conversa de surdo e mudo mesmo. O que tb atrapalha o entendimento é a diferença cultural. Os árabes, por exemplo, têm conceitos bem diferentes, inclusive em relação à mulher e isso choca muito os franceses, que são um povo que acredita na liberdade e igualdade. É verdade que os franceses não amam os imigrantes e não é só pelo aspecto cultural; pra muitos franceses, imigrantes/ descendentes são pessoas que eles sustentam, já que a maioria não tem emprego e vive do que o governo dá, ou seja, dos impostos pagos, em maior parte, pelos franceses. E como a maior parte dos franceses vive bem, mas tb não são ricos, eles se sentem lesados e tem sua razão. Ambos os lados tem razão e não sei quem começou a discriminar quem primeiro. Mas hoje em dia, é bem comum ver árabes e argelinos discriminando mulheres francesas, tratando mal, arrumando briga sem motivo mesmo e etc. Já presenciei várias cenas. Eles tb não são santos.


Só sei que queimar carros não leva a nada mesmo. E o pior: eles queimam carros e escolas no próprio bairro deles, ou seja, carros de imigrantes/descendentes ou do francês menos privilegiado. Seus filhos ficam sem escola. A quem eles estão atingindo com isso? Quem tem pouco, como eles. E aí eles acabam fazendo com que os franceses que os apoiavam, passem a ficar contra tb. É um nó cego!


Marx dizia que a história sempre se repete, a primeira vez como verdade e a segunda como farsa. Ele queria dizer que algumas pessoas e/ou grupos usam de acontecimentos históricos passados para se legitimar, se inspirar e essa repetição tem como objetivo evocar valores, crenças, legitimar e não repetir atitudes. É uma evocação. Marx dizia tb que as revoluções do séc. XIX não devem tirar sua inspiração do passado, mas sim do futuro.Tem uma frase dele ótima, que ainda reflete o que vivemos hoje: “Antes a frase ia além do conteúdo; agora é o conteúdo que vai além da frase”. As atitudes corretas vêm das práticas sociais atuais, das experiências do homem em sociedade que se acumulam e da “evolução” (não no sentido darwinista,mas no sentido historicista) dessas, q é primordial para q possamos nos fazer entender, nos fazer ouvir. Hoje vivemos num mundo de práticas sociais bem distintas e manifestos eficazes para esse tempo ainda não foram criados.


Hoje várias esferas sociais se inter-relacionam, se sobrepõem e fazem c/ q o poder esteja bem mais camuflado, infiltrado, invisível, subliminar. Misturas culturais, práticas religiosas diversas convivendo lado a lado, estilos de vida completamente diferentes dividem o mesmo território. Ou seja, o mundo mudou e com ele, deviam mudar também nossas formas de protesto. Esquerdistas intelectuais estão durante todo esse século falando disso e do perigo de usarmos práticas do século passado para nos fazer ouvir. Outro dia li como a extrema direita francesa adorou a queima de carros e os demais movimentos de rebelião ou de “revolução” feitos até agora. Agora eles têm mais um excelente motivo, palpável, p/ convencer franceses e não franceses, que a imigração é ruim para o país. A extrema direita adora esse tipo de protesto violento e usam deles para crescer. E infelizmente, ao nos rebelarmos dessa forma, só alimentamos o inimigo. Pois a extrema direita é sim o maior inimigo de todos nós, eles sim são os “reaças”, são os que estão crescendo em silencio, por debaixo das teias sociais e de pequenas brigas étnicas estimuladas por nós mesmos, seja quando discriminamos ou quando apoiamos rebeliões violentas. A extrema direita agradece todas as atitudes violentas praticadas por minorias. Eu acho que devemos acordar do nosso sonho romântico e revolucionário, pois a extrema direita sabe bem onde vivemos e usa muito bem das nossas falhas para se legitimar. Nós não enxergamos a realidade (poder, interesses e etc) e de forma clara e mesmo quando a enxergamos, não conseguimos lutar contra ela, nem desenvolver formas eficazes, pois estamos insistindo em nos comunicar via sinais de fumaça, num mundo já virtual.